A luz do sol entra pelas laterais da janela e nos faz despertar para mais um dia. A cama fica para trás e a mão desloca um pouco a cortina e revela os edifícios altíssimos com seus andares de escritórios. As luzes de alguns deles ficaram acesas durante a noite toda e um copo de papel de café repousa em uma das mesas. Depois do banheiro, voltamos pra cama. Aliás que cama! Talvez a mais confortável que exista, com seus travesseiros com quilômetros de comprimento e seu colchão de maria mole. No Algonquim, o hotel mais antigo em funcionamento na cidade, os quartos tem uma atmosfera do passado, com móveis, iluminação e espaços internos que nos fazem ter certeza de que este hotel é diferente dos hotéis de hoje. As paredes do corredor dos elevadores divertem com um papel de parede estampado recheado de cartoons que fizeram parte da história do The New Yorker. Desde o elevador até o lobby, sentimos a outra época espalhada em cada detalhe. As colunas de madeira, as pinturas, o mobiliário e pra finalizar em grande estilo, podemos apreciar Matilda, a gata de estimação do hotel. Ela gosta de ficar repousando em cima do balcão de mármore da recepção com um certo ar de celebridade intelectual que de minuto em minuto é assediada por algum hóspede infantilizado com sua beleza. Ao sair do hotel, já se sente o movimento da cidade que nunca dorme e sua brisa matinal de primavera, que nos acorda de vez. Esquerda ou direita? São tantas opções, tantos lugares que às vezes não queremos planejar nada. Apenas deixar fluir e sermos levados a esquinas incríveis, becos improváveis e delis e cafés maravilhosos. O mundo está aqui, as pessoas, a arte. Estamos dentro dos filmes. Até a estação de trem vale a visita. Os edifícios poderiam oprimir os transeuntes pelas alturas descomunais, mas na verdade dão a sensação de organização, definindo os espaços e as ruas, criando praças entre si, com jardins organizados, fontes com o barulhinho agradável da água e contrastes interessantes ao lado de igrejas e construções antigas que permanecem entre eles. Além é claro de portarias e halls caprichados, como se a intenção fosse primeiramente embelezar o encontro do prédio com a calçada, privilegiando o cidadão. Se sentir vontade de se afastar do concreto e pisar na grama entre no gigante parque que todo mundo sabe o nome e que parece íntimo até de quem nunca visitou a cidade. A multidão parece não atrapalhar a caminhada e até aumenta a credibilidade do espaço que nos convida a olhar, sentir, ouvir e curtir. Crianças correm, brincam com balões, tomam sorvetes e se esbaldam no carrossel. A “praia”da cidade recebe grupos fazendo piquiniques e noivos e padrinhos tirando fotos de um dia especial e querendo que o parque seja o cenário. Miniaturas de barcos navegam pelo lago emoldurado pelos prédios ao fundo e nos indicam o caminho pelas árvores com troncos vistosos e esquilos saltitantes por todos os lados. A natureza inserida na cidade que pulsa sem parar e que nos dá de presente belos museus com obras de arte, história, informação e cultura, cafés e lojinhas com pequenas lembranças desses ambientes que poderão habitar as nossas estantes. No bairro do Village nos sentimos fazendo parte de algo bom. Passeando pelas ruas arborizadas com seus pequenos prédios com fachadas de tijolo e calçadas não muito largas dá pra perceber que esta combinação dá certo. Queremos estar ali, queremos passear por ali. Chega-se no Soho e os prédios parecem mais altos e muito deles tem as escadas externas para incêndio que ás vezes parecem atrapalhar e ás vezes parecem ser parte fundamental da arquitetura. Criam uma dúvida que logo é deixada pra trás quando nos deparamos com inusitadas galerias de arte que se abrem para a rua estimulando ainda mais a curiosidade de quem passa. Musicais e shows não faltam, pelo contrário, nos faz perceber o quanto temos poucas opções realmente boas em nossa casa. Mas faz parte, estamos em Nova York! Cidade alvo do pior ataque, todos sabemos, mas que fica sempre em segundo lugar na disputa com as qualidades que a cidade tem. Afinal, apesar de tudo, a maioria das pessoas ainda quer conhecer, vivenciar, comer, assistir…a lista de verbos não tem fim. As pessoas querem estar lá..Você diz: “I want to be a part of it”.. e a cidade te responde: “it’s up to you…já dizia a música.
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