As pirâmides do Egito tem ligação com vários assuntos de diversas áreas e campos diferentes, como a história, filosofia, astronomia e muitos outros, estimulando a curiosidade da humanidade ao longo dos séculos em relação ao seus aspectos místicos e construtivos. Se pensarmos em arquitetura, vemos que elas são realmente importantes. Gigantescos monumentos, na verdade túmulos de faraós, feitos com enormes e pesados blocos de pedra que resistem ao longo do tempo e nos surpreendem ao pensarmos como foram feitos e como os blocos foram deslocados com o trabalho de escravos. Algumas possuem as laterais lisas e outras são compostas por degraus, como a pirâmide do faraó Djoser projetada pelo arquiteto Imhotep, em Saqqara, a 25 km ao sul do Cairo. Quantos elementos da arquitetura foram influenciados por elas, entre prédios, casas, mobiliário, obras de arte? E além da forma exterior marcante, existem um vasto número de corredores, câmaras e espaços dentro dessas construções. Entrar em uma delas é realmente uma experiência marcante, pois é necessário subir com seu corpo inclinado dentro de extensos túneis com alturas diferentes, até chegar a uma sala ou câmara onde possivelmente, muito antigamente, estava algum túmulo com muitos tesouros em volta. Um pequeno buraco que permite a entrada da luz, desenhando o raio de sol dentro do espaço, garante o clima de aventura. Ainda mais para quem assistiu aos filmes do Indiana Jones quando criança. Não tem como não fazer a ligação. Um detalhe interessante é que a cidade que eles mostram no filme Caçadores da Arca Perdida, como sendo o Cairo, acredito que na verdade seja uma cidade na Tunísia.
É bem estranho olhar ao redor do sítio arqueológico e ver hotéis com vista para as pirâmides, ônibus parados e uma cidade caótica logo ao lado. Mas a primeira visão da pirâmide é inesquecível. Parece um cenário, mas percebemos logo que já está lá a muito tempo. Depois de adentrar a área, nos sentimos no deserto com ruínas por todos os lados, camelos e areia em toda a volta. E bastante calor também. Andar de dromedário (não é camelo, pois camelo tem duas corcovas) por lá requer um certo jogo de cintura para negociar o valor e o tamanho do trajeto com o dono do animal, senão após sentar no camelo, o dono vai te levando sem rumo e quando você menos esperar vai estar no meio do deserto. Então terá que pagar muito mais para ele te levar de volta ou terá que pular do alto e sair atolando na areia aborrecido com o rapaz vestido de branco. As pirâmides iluminadas a noite, cada uma com uma cor, juntamente com a esfinge, criam um show de luz agradável para os olhos. Concertos e shows acontecem na praça em frente, com as pirâmides como pano de fundo.
A cidade do Cairo é um caos, com um dos trânsitos mais loucos do mundo, cheios de carros velhos e batidos e batidas acontecendo a toda hora. Atravessar a rua é uma aventura. Você vê uma batida com os motoristas saindo no tapa, ao lado um vendedor de pão pilotando uma carroça, isso embaixo de um viaduto e com mil buzinas tocando ao mesmo tempo. As ruas estão sempre cheias de gente e normalmente são muito sujas com uma grande poluição visual de letreiros.
Um passeio pela parte islâmica do Cairo, onde se encontra uma grande parte das mesquitas entre ruelas e becos é uma daquelas experiências que fazem a gente parar, pensar e valorizar tudo de bom que temos. Não se percebe a presença de turistas neste local, apenas uns poucos com interesses específicos. Casas e pequenas construções coladas umas nas outras, a maioria caindo aos pedaços, com gente por todo o lado e a miséria tomando conta de tudo e todos. Uma série de contrastes o tempo todo. Pode-se ver uma loja que vende objetos de ouro ao lado de um “buraco” com um artesão enfiado lá dentro moldando algum utensílio de metal, uma loja vendendo galinhas, uma em cima da outra, crianças brincando na frente sem o menor sinal de higiene, visível tanto em suas roupas como em seus corpos, amplificado pelo aspecto destruído que vemos em tudo ao percorrer esta área da cidade. Idosos com o rosto marcado pelo sofrimento e pela difícil condição de vida, e que parecem não se incomodarem com tudo a sua volta, pois talvez não imaginem outro tipo de realidade. O cemitério, conhecido como a cidade dos mortos está logo ao lado, inserido no cotidiano das pessoas.
Quando se entra em uma das mesquitas, dá pra sentir um alívio momentâneo, ocasionado tanto pela diminuição do barulho e da temperatura e principalmente pelo clima mais sereno e calmo gerado talvez pelo aspecto religioso do local. Tirar os sapatos e deitar no imenso piso atapetado dá uma relaxada na mente e nos prepara para voltar a realidade lá de fora logo em seguida e continuar em busca de outra mesquita. A arquitetura religiosa islâmica é bem interessante com vários detalhes típicos e marcantes deste tipo de construção, com espaços amplos e iluminados de um jeito bem especial.
Dá para pegar um trem e visitar Alexandria e ver o mar mediterrâneo pelo litoral egípcio. O prédio da nova biblioteca é fantástico. Projeto de um escritório norueguês que prova ainda mais que um arquiteto de qualquer país é capaz de fazer trabalhos incríveis em outros países com culturas completamente diferentes da sua. A cidade tem o caos presente no Cairo, mas a presença do mar dá uma aliviada na atmosfera local. Pode-se comer muito bem por lá, principalmente frutos do mar. Lembrando sempre que não se deve prestar muita atenção na higiene dos restaurantes. O povo vai a praia e muitos mergulham no mar vestidos com roupas brancas e burcas. Difícil de entender para um carioca.
A parte central da cidade do Cairo, com o trecho do Rio Nilo onde estão os hotéis de luxo, é muito diferente do restante. Grandes edifícios e clima de cidade grande com várias atrações turísticas. Navegar a noite pelo Rio Nilo no barco felluca é uma forma de se sentir perto desse rio tão importante na história da humanidade. Na verdade perto de uma pequena parte dele. O museu do Cairo também é um programa imperdível. Podia ser mais bem conservado, mas vale a visita mesmo assim.
O Cairo tem muitos problemas e um “clima pesado” em várias partes. Mas tem muita história, muita arquitetura para ser vivida e apreciada e muita informação cultural. Um destino para quem gosta de imaginar o passado, viver intensamente o presente e se preparar para o futuro aprendendo o máximo que pode e abrindo a mente para isso, respeitando sempre as diferenças culturais e religiosas de cada país, para que possamos valorizar a nossa própria vida e tudo o que nos cerca.
Ruínas dividem o espaço com as pirâmides e o deserto com a cidade ao fundo.
A Esfinge a frente de centenas de cadeiras para as apresentações de concertos e shows a noite e um túnel alto dentro da pirâmide.
Trânsito caótico.
Esta grande praça com trânsito intenso em volta, por ser uma área mais aberta, diminui um pouco a sensação de confusão em ruas apertadas. O letreiros estão exageradamente em todos os lugares, nos topos dos prédios como nas fachadas.
As mesquitas com seus minaretes se destacam no contexto urbano como as pirâmides se destacam no deserto.
Muitas construções inacabadas ou destruídas fazem a cidade parecer que estava em guerra.
loja típica chama a atenção devido ao brilho da cor dourada de seus objetos. A barganha é fundamental na hora de comprar qualquer coisa.
Lugares mais cheios de gente ou mais vazios…não importa, o descuido visual é constante.
descanso em meio ao caos, dentro das mesquitas.
Entrada do sítio arqueológico de Saqqara e a pirâmide de Djoser em degraus, também em Saqqara.
Praia em Alexandria com um viaduto cortando o mar e visão de uma ruela nada conservada na mesma cidade.
Biblioteca de Alexandria, projeto do escritório de arquitetura norueguês Snohetta.
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