Nos dias de hoje, quando vejo a lotação esgotada das grandes cidades, a quantidade de informação e a velocidade que essa informação é ultrapassada por outra mais nova, fico assustado. Esse problema me faz pensar nas pessoas no mundo todo, na nossa criação como seres humanos, na relação entre os povos e diferentes culturas e principalmente na absurda e real desigualdade social e ecônomica entre todos nós. Em muitos lugares pessoas não tem o que comer, não tem acesso a água e vivem sem expectativa de melhora nas suas vidas. Afinal somos todos humanos, portanto da mesma espécie. Só porque uns tem qualidade de vida e outros são miseráveis, não quer dizer que somos diferentes. Todos de carne, osso e com cérebros. Mas é difícil falar sobre esse assunto porque são infinitas as opiniões. Uns dizem que a culpa é dos governos, outros que a culpa é do povo mesmo, tanto ricos quanto pobres, que o mundo nunca vai mudar. E essa informação toda que chega diariamente? Pra onde vai? Será que apenas uma micro fatia da humanidade consegue vê-la? Pra que isso tudo então , se o básico tá faltando e a população está aumentando? Muita gente se sente incapaz de fazer algo pra mudar isso tudo. Mas se pensarmos que as maiores quantias de dinheiro do mundo estão aplicadas em armas, drogas e guerras, fica mais fácil entender o porque do mundo estar quase um lixão, se já não está.

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Cidades como Dubai aparecem aos olhos do mundo com uma imagem de cidade futurística apoiada em uma forte e abrangente propaganda de sua arquitetura ultra moderna, através dos meios de comunicação, como a internet. A arquitetura sempre foi usada pelos governos como uma forma de mostrar poder ao povo e conseguir o respeito de outras nações. Mas até que ponto essa atitude é boa para a população e para o desenvolvimento destas cidades? E como deve ser o olhar do mundo para esses empreendimentos bilionários e suntuosos dentro de uma situação nada harmoniosa em que a humanidade se encontra? A maioria da população mundial não tem acesso a essa arquitetura ou simplesmente não liga. Uma arquitetura para os ricos, para grandes empresas. Criam-se aqueles aglomerados de altas torres, cada uma com uma arquitetura mais chamativa do que a outra, numa espécie de ringue, onde um prédio tenta nocautear o outro ao seu lado. A regra é ignorar o entorno e supervalorizar a arquitetura para aparecer mais. Na base desses aglomerados criam-se luxuosas marinas com iates desempenhando o mesmo papel dos edifícios. Linhas de metrô suspensas, ao ar livre, e longas estradas tipo highways americanas cortam a paisagem dando a idéia de modernidade. Grandes aterros em forma de palmeiras e mapa mundi empurram as águas do mar da arábia para abrigar grandes mansões, criando um mega condomínio de luxo onde até celebridades mundiais ganharam casas de presente do sheik, para fazer propaganda do empreendimento. Imagina quanta areia do fundo do mar foi usada nesses aterros. Sem esquecer do maior shopping do mundo, com estação de ski indoor e a maior torre do mundo.

Fico pensando sobre tudo isso e não vejo como essa cidade pode ser usada, compartilhada ou simplesmente vivida. Onde estão as pessoas? Cadê as calçadas? Será que tem realmente um imenso volume de homens de negócios para usarem todos esses prédios? E a dívida do sheik? Não me entenda mal. Eu gosto de prédios futuristas, estações de metro ultra modernas, avanço nas tecnologias e na arquitetura, cidades limpas, organizadas. O que me incomoda é uma cidade crescer em pouco tempo no meio do deserto, como um símbolo da ostentação e trazendo luz para a desigualdade mundial.

Planejar uma cidade deve ser um dos maiores desafios para o homem, pois existe o fator comportamental humano, o imprevisto e tudo que não podemos prever com exatidão. Por mais que existam muitos especialistas e estudos relacionados ao tema, nunca dá pra saber exatamente como o homem vai interagir com o meio urbano criado. Ainda mais uma cidade criada com base na propaganda para outros países. Empresas de diversos países se instalam em Dubai. Cadê o povo árabe que não é multimilionário? Ficarão nas periferias da cidade? Jogadas no restante de deserto?

É estranho imaginar Dubai sendo vivida do mesmo jeito como vemos nas perspectivas em 3D, dos projetos megalomaníacos, onde muitas pessoas locais e executivos estrangeiros desfrutam do mesmo ambiente com aquele clima de “money and business” cordial e produtivo, sem mendigos pedindo esmolas, sem assaltos, sem sujeira nas ruas, com famílias árabes e estrangeiras confraternizando nas áreas públicas, todos respeitando os limites de velocidade com seus carrões, praias artificiais lotadas de turistas e um clima de “somos o futuro do mundo”. Posso até estar errado agora, mas não acredito nisso. Temos que esperar uns 50 anos e ver como foi.

Todas as fotos acima foram tiradas em Dubai em outubro de 2009. A foto abaixo foi tirada na Cidade do Panamá em maio de 2009. A orla central desta cidade apresenta grandes canteiros de obra em ritmo acelerado, com vários hotéis, edifícios comerciais e residenciais sendo construídos. É um contraste grande com o restante do litoral e interior do país, sem grandes desenvolvimentos e com a população local mais pobre.

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Existe uma relação com Dubai, se olharmos a quantidade de empreendimentos, a velocidade das construções e o contraste com o restante do país. A pergunta é: De onde vem esse dinheiro todo?

postado em 09/04/2010